"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (Rui Barbosa)"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aguarde um Minuto...

Eduardo Müller

Artigo publicado pelo Jornal "A Tribuna Piracicaba", de 21/05/2010.
Link para a versão on-line do jornal: http://www.tribunatp.com.br/modules/publisher/item.php?itemid=1270


Existe algo mais irritante do que serviços de atendimento ao cliente? Nos últimos dias, tenho me revoltado a tal ponto que, por várias vezes, cheguei a repensar se realmente vale a pena pagar por tanta irritação e falta de respeito!

O mais intrigante nessa história toda é o por quê de eu me permitir, reiteradamente, estar à mercê dessa palhaçada. Uma das vantagens de ser um operador do direito (ainda que em estágio de aprendiz) é justamente o fato de que, detendo conhecimento de seus direitos, poucos conseguirão lhe “passar a perna”. Porém, às vezes me pergunto se efetivamente vale a pena, e se não seria melhor perder algum dinheiro com valores inexatos nas contas, ou, ainda, pagar por serviços que você não contratou, ao invés de passar tanta raiva tentando reaver o que foi lhe tirado indevidamente.

Via de regra, quando recebo uma fatura inexata, após xingar até a quinta geração do emitente, crio coragem pra ligar à prestadora do serviço. Compro um lanche, coloco os pés de molho na água quente, e já coloco também comida pro meu cachorro, pro coitado não morrer de fome, no caso de passar algumas semanas sendo atendido via telefone. Pra começar, sou obrigado a ouvir clara e pausadamente todas as opções disponíveis para atendimento ao cliente. Desde “disque 1 para área técnica” até “disque 9 para outras opções”. Quando finalmente encontro a tecla certa para o atendimento do qual preciso, sou obrigado a digitar meu CPF (que, em minha opinião, é um absurdo que deveria ser proibido). Após alguns minutos de espera, a voz robótica informa que meu cadastro foi encontrado, e que serei encaminhado a um atendente.

Aí sim, começa a espera. Só que, o mais revoltante – em nível máximo de irritabilidade – é que, quando o atendente finalmente entra na linha, ele, para minha surpresa, pergunta novamente meu CPF, meu nome, endereço, nome da minha mãe, pergunta secreta, cor da pele, escolaridade, time do coração e quantas figurinhas faltam pra completar o meu álbum da copa. E, pior: independentemente da tecla que eu digitei lá no início do atendimento eletrônico, minha ligação sempre irá cair no setor errado, e sempre o atendente irá me dizer “aguarde enquanto eu lhe transfiro para o setor responsável”.

E a linha cai. E eu choro.

Não quero ofender ninguém, muito menos nenhuma classe. Eu mesmo já trabalhei com telemarketing e sei que esse é um dos trabalhos mais estressantes que existem. Esses profissionais realmente merecem cada vez mais conquistar melhores condições de trabalho e de renda. Entretanto, um dos mistérios mais perturbadores que existem na minha mente é entender o que se passa na cabeça de um sujeito que trabalha para tirar dúvidas dos clientes e deliberadamente desliga o telefone, enquanto maliciosamente pede que eu aguarde um minuto. Interessante é que eu converso mais de cinco horas por mês entre telefone fixo e celular, e o único lugar onde a linha cai toda vez que eu ligo é no atendimento ao cliente dessa empresa. No mínimo estranho, não é mesmo?

Feliz era meu avô, cujo único atendimento desse tipo do qual precisava era reclamar com o seu Manoel, quando o pãozinho estava muito cascudo.

Enfim, definitivamente as recentes mudanças na lei que regulam esse setor não foram suficientemente eficazes para melhorar o atendimento ao cliente. Isso é fato. Ainda continuamos a serviço do desrespeito e abuso, e, para quem o tempo é raro e precioso, a maneira legal de reaver seus direitos não compensa. Registro minha revolta, mais um dentre tantos outros clientes desgostosos.